
Da Fase de Grupos à Final: Como o Flamengo Evoluiu Fisicamente na Libertadores 2025
O Flamengo está classificado para a final da Libertadores de 2025. A frase, dita assim, parece simples. Mas esconde uma jornada turbulenta. Após um início conturbado, com desempenho e resultados abaixo das expectativas na fase de grupos, o time de Filipe Luís chega à decisão embalado por vitórias em confrontos de peso no mata-mata continental.
O que mudou entre o Flamengo irregular da fase de grupos e o Flamengo avassalador que chegou à final? Muitas coisas. Mas uma das principais foi a evolução física. Vamos analisar essa transformação pelos números e entender como o trabalho de preparação física foi fundamental para a virada.
Fase de Grupos: Abaixo das Expectativas
Na fase de grupos da Libertadores 2025, o Flamengo não convenceu. Classificou-se, sim, mas sem brilho. Alternando bons e maus momentos, deixando a impressão de time desequilibrado.
Os Problemas Físicos Iniciais
Análises dos jogos da fase de grupos revelaram alguns problemas recorrentes:
- Queda de intensidade no segundo tempo: O Flamengo começava bem mas perdia gás após os 60-70 minutos
- Dificuldade em manter pressão: A marcação alta funcionava por períodos, depois a equipe recuava demais
- Lesões musculares pontuais: Alguns jogadores importantes ficaram fora em momentos críticos
- Irregularidade de desempenho: Um jogo corria 12km, no outro apenas 9km. Faltava consistência
Esses sintomas todos apontavam para um problema: a preparação física não estava no ponto ideal. E há razões para isso.
O Desafio do Calendário Brasileiro
Quando a Libertadores começou, o Flamengo estava disputando simultaneamente:
- Campeonato Carioca (em fase decisiva)
- Copa do Brasil (início da campanha)
- Brasileirão (primeiras rodadas)
- Libertadores (fase de grupos)
Quatro competições ao mesmo tempo. Jogos a cada 3 dias. Impossível planejar uma preparação física ideal nesse cenário.
O resultado? Atletas acumulando fadiga, sem tempo para recuperação adequada, treinando menos do que o ideal entre jogos.
A Virada: O Que Mudou no Mata-Mata
Quando chegou a fase de mata-mata, o Flamengo era outro. Não só taticamente, mas fisicamente. Os números mudaram drasticamente:
Aumento de Intensidade Sustentada
Análises de GPS dos jogos de mata-mata mostraram:
- Aumento de 8-10% na distância percorrida em alta intensidade
- Mais sprints por jogo (média subiu de 14 para 19 sprints por jogador)
- Manutenção de intensidade até os últimos minutos
- Melhor recuperação defensiva (tempo para voltar à posição após perdas de bola)
Esses números não melhoram por acaso. Resultado de trabalho sistemático nos intervalos entre jogos.
Redução de Lesões
Na fase de grupos, o Flamengo teve 5 lesões musculares. No mata-mata, apenas 1 (a de Pedro, por trauma direto, não por fadiga ou sobrecarga).
Essa redução drástica indica que o trabalho preventivo foi intensificado e funcionou. Prevenir lesões em momento decisivo é tão importante quanto fazer gols.
Consistência de Desempenho
Talvez a mudança mais importante: o Flamengo ficou consistente. Jogo após jogo, mantinha padrões de intensidade similares. Não havia mais aquele “em um jogo corre muito, no outro corre pouco”.
Consistência física permite que o técnico implemente táticas mais complexas. Se você não sabe se seus jogadores vão aguentar pressionar 90 minutos, não pode planejar uma marcação alta. Mas se sabe que fisicamente eles estão preparados, aí sim pode exigir.
O Papel de Filipe Luís na Evolução Física
Filipe Luís assumiu o Flamengo em outubro do ano passado (2024). Desde então, 69 jogos disputados, com impressionante 71% de aproveitamento.
Mas além dos resultados, ele trouxe cultura de profissionalismo físico:
Exigência em Treinos
Filipe Luís, jogador de altíssimo nível que foi, sabe exatamente o que é necessário fisicamente para competir em alto nível. E exige isso dos jogadores.
Treinos do Flamengo sob seu comando são intensos, com atenção a detalhes, sem relaxamento. Quem não estiver 100% comprometido fisicamente, não joga.
Confiança na Comissão Técnica
Filipe confia no departamento de fisiologia. Quando recebe um alerta de que jogador X está em risco de lesão, ele escuta. Não força. Respeita a ciência.
Muitos treinadores ignoram alertas dos fisiologistas. “Eu sei mais”, pensam. Filipe não. Ele entende que ciência e dados são aliados, não inimigos.
Gestão de Elenco
Com 69 jogos em uma temporada, é impossível manter os mesmos 11 sempre. Filipe soube rodar o elenco nos momentos certos, dar descanso a quem precisava, manter todos envolvidos.
Isso distribuiu melhor a carga física ao longo da temporada. Ninguém jogou 70 jogos completos. Vários jogaram 40-50, mas sempre em bom estado físico.
Brasileirão + Libertadores: Dupla Jornada
Até a final da Libertadores, o Flamengo ainda disputa o Brasileirão. E está na briga pelo título. Isso significa que não pode poupar jogadores indiscriminadamente.
O Desafio da Dupla Competição
Antes da final do dia 29, o Flamengo ainda tem compromissos importantes pelo Brasileirão. Como gerenciar a carga física para chegar bem na decisão SEM comprometer o campeonato nacional?
É quebra-cabeça complexo. Algumas estratégias:
Rodízio estratégico: Em jogos do Brasileirão, rodar alguns jogadores que serão titulares na final. Mantém ritmo mas reduz carga total.
Substituições preventivas: Tirar jogadores importantes aos 60-70 minutos de jogos do Brasileirão, mesmo que estejam jogando bem. Prioriza a final.
Treinamentos reduzidos: Na semana da final, quem joga no Brasileirão faz apenas recuperação nos dias seguintes. Volume mínimo de treino.
Individualização extrema: Cada jogador com seu plano específico baseado em quantos minutos jogou, em que intensidade, como está respondendo.
A Importância dos Números: 71% de Aproveitamento
O Flamengo de Filipe Luís tem 71% de aproveitamento em 69 jogos. Isso é extraordinário.
Para contextualizar: uma equipe com 70%+ de aproveitamento numa temporada completa normalmente ganha tudo. É nível de time histórico.
E esse aproveitamento não é sorte. É consequência direta de ter atletas fisicamente preparados para vencer jogos nos momentos decisivos.
Gols nos Minutos Finais: Prova de Condicionamento
Dos 128 gols marcados pelo Flamengo sob Filipe Luís, impressionantes 34 vieram nos últimos 15 minutos de jogo (dos 75 minutos em diante).
Isso é mais de 26% dos gols! Não é coincidência. Times mal condicionados não fazem gols no final – estão cansados, lentos, imprecisos.
Times excelentemente condicionados fazem mais gols no final porque:
- Mantêm lucidez mental quando adversários estão exaustos
- Conseguem fazer sprints explosivos mesmo com 80 minutos de jogo
- Aproveitam que defesas adversárias cometem erros por cansaço
- Têm reservas energéticas (glicogênio muscular) para acelerações finais
53 Gols Sofridos em 69 Jogos: Defesa Também É Condicionamento
Enquanto fazem gols, o Flamengo também sofre poucos: apenas 53 em 69 jogos. Média de 0,77 gols sofridos por partida.
Defender bem não é só posicionamento tático. É capacidade física de:- Voltar rápido para posição defensiva após atacar
- Fechar espaços constantemente por 90 minutos
- Disputar cada bola com intensidade máxima
- Manter concentração mesmo quando cansado
Times mal condicionados defendem bem nos primeiros 60 minutos. Depois abrem, cansam, sofrem gols. O Flamengo mantém solidez defensiva o jogo inteiro. Sinal de condicionamento excepcional.
Pedro vs Sem Pedro: Diferença Estatística Pequena
Com Pedro em campo, o aproveitamento é 72%. Sem ele, 69,7%. Diferença de meros 2,3 pontos percentuais.
Por que tão pequena? Porque a preparação física é coletiva. Não depende de um jogador só.
Claro que Pedro é fundamental taticamente. Mas fisicamente, o time funciona com ou sem ele porque TODOS estão bem preparados. Bruno Henrique, que assume a vaga, também está em excelente condição.
Isso mostra profundidade de elenco, mas também mostra que o trabalho físico é democrático. Não há “titulares preparados e reservas despreparados”. Todos treinam no mesmo nível de exigência.
A Campanha Física Ideal: Picos nos Momentos Certos
Uma temporada longa como a do Flamengo (69 jogos e contando) não permite estar sempre no pico. É impossível.
A arte da preparação física é planejar picos nos momentos mais importantes:
Janeiro-Março: Construindo Base
Início de temporada, pré-temporada, primeiros jogos oficiais. Momento de construir base física, trabalhar força, resistência, capacidades fundamentais.
Não precisa estar no pico ainda. Campeonato Carioca, por exemplo, serve inclusive como preparação para competições mais importantes.
Abril-Junho: Primeira Fase da Libertadores
Fase de grupos da Libertadores coincide com início do Brasileirão. Período intenso, muitos jogos. Foco é manutenção – não perder a forma construída, evitar lesões, passar de fase.
Como vimos, o Flamengo não estava impecável nessa fase. Mas passou, que era o objetivo.
Julho-Setembro: Reta Final Brasileirão + Libertadores
Momento de elevar o nível. Mata-mata da Libertadores, decisões de Copa do Brasil, reta final do Brasileirão.
Aqui você quer estar no seu melhor. E foi exatamente quando o Flamengo engrenou fisicamente.
Outubro-Novembro: Pico Absoluto
Final da Libertadores, últimas rodadas do Brasileirão. É agora ou nunca.
Todo o trabalho do ano foi para chegar neste momento em forma máxima. E os números sugerem que o Flamengo conseguiu: está jogando o melhor futebol da temporada exatamente quando mais importa.
Adversários no Caminho: Evolução Testada
No mata-mata, o Flamengo enfrentou adversários de peso. Cada confronto testou diferente aspecto da preparação física:
Oitavas de Final: Teste de Intensidade
Adversário sul-americano intenso, pressionando, dificultando. O Flamengo precisou manter intensidade para não ser sufocado. Passou no teste.
Quartas de Final: Teste de Altitude
Jogo em altitude média. Desafio de adaptação fisiológica. Preparação específica (aclimatação, suplementação) funcionou. Flamengo venceu.
Semifinal: Teste de Resiliência
Confronto duro, físico, disputado. Precisou de resiliência mental e física para aguentar pressão e reverter situações difíceis. Time mostrou maturidade.
Cada obstáculo superado aumentou confiança e comprovou que a preparação física estava no caminho certo.
A Reta Final: 6 Dias Para o Ápice
Agora faltam 6 dias para a final. Como o Flamengo vai usar esse tempo?
Dias 1-2: Recuperação e Análise
Quem jogou pelo Brasileirão recentemente faz recuperação completa. Quem não jogou mantém ritmo com treino mais intenso.
Comissão técnica analisa dados, identifica pontos de atenção, planeja últimos ajustes.
Dias 3-4: Trabalho Tático-Físico Integrado
Treinos que mesclam preparação física com preparação tática. Simular situações do jogo, intensidade de jogo, mas com volume controlado.
Dias 5-6: Ativação e Viagem
Apenas ativação muscular, trabalhos leves, manter corpo ativado mas descansado.
Viagem para Lima, adaptação ao fuso horário, reconhecimento do estádio.
Dia 7: Final!
29 de novembro, 17h (horário de Brasília), Estádio Monumental de Lima. O momento para o qual se prepararam o ano inteiro.
Conclusão: Evolução É Preparação
A evolução do Flamengo da fase de grupos à final não foi acidente. Foi trabalho metódico, planejamento, ajustes constantes, ciência aplicada.
Começaram irregulares fisicamente, acumulando fadiga, sofrendo lesões. Identificaram problemas, ajustaram cargas, intensificaram prevenção, distribuíram melhor minutos de jogo.
Resultado? Chegaram à final no melhor momento da temporada. Fisicamente preparados, taticamente coesos, mentalmente confiantes.
Os 71% de aproveitamento não mentem. Os 128 gols marcados não mentem. Os apenas 53 sofridos não mentem. O Flamengo construiu uma máquina.
E agora, no dia 29 de novembro, essa máquina vai funcionar em potência máxima. Contra o Palmeiras, outro gigante. Pela chance de ser tetracampeão inédito. Por US$ 24 milhões. Por glória eterna.
A preparação física trouxe o Flamengo até aqui. Agora falta apenas executar. Com Bruno Henrique no comando do ataque, com Filipe Luís no comando técnico, com um elenco fisicamente preparado para 90 minutos (ou 120 se necessário) de guerra.
Da fase de grupos irregular à final em forma máxima. Essa é a jornada. Essa é a evolução. Essa é a ciência do esporte aplicada ao futebol de alto nível.
E no sábado, sob o sol de Lima, vamos ver se todo esse trabalho se transforma no que realmente importa: mais uma taça da Libertadores para a galeria rubro-negra. 🔴⚫🏆